Ser escritora na Turquia é um trabalho arriscado. Além de viverem em uma sociedade absolutamente patriarcal, o fundamentalismo religioso e o conservadorismo político têm feito com que grande parte da "intelligentsia" turca, de onde vêm muitas autoras, busque refúgio em outros países. A autocensura também é um fantasma constante, já que autoras e autores são constantemente criticados pelo governo e, até mesmo, julgados e presos por suas palavras. Várias editoras foram fechadas por ordens do governo.
Mas a Turquia é um lugar culturalmente rico, um ponto do planeta por onde ideias transitam entre o Oriente e o Ocidente. Com os pés nestes dois universos, a produção cultural turca funde o melhor do racionalismo com as mais fabulosas lendas e mitos. Selecionamos algumas das mais prolíficas escritoras contemporâneas turcas para você mergulhar em universos literários exóticos e familiares, tudo junto ao mesmo tempo, assim como as ruas de Istambul ou as cavernas da Capadócia.
Escritoras contemporâneas turcas
Elif Batuman
Nascida em 1977, em Nova York, de pais emigrados da Turquia, Elif Batuman pertence a vários mundos. Doutora em Literatura Comparada, teve sua primeira aventura literária escrevendo Os possessos (Editora Leya) sobre a importância da literatura russa e como ela influencia quem a lê. Jornalista da revista New Yorker, cobriu a Turquia durante sua estada em Istambul como professora na Koç University. Em 2014, começou a fazer terapia e releu um antigo manuscrito de sua juventude. Cansada de começar romances sem nunca terminá-los, decidiu "analisar-se" finalizando o livro semi auto-biográfico A Idiota (Companhia das Letras), título escolhido em homenagem a Dostoievski. Lançado em 2017, ao completar 40 anos, foi finalista do Prêmio Pulitzer de ficção no ano seguinte. Seu último lançamento, ainda não traduzido no Brasil, é Either/Or (Isso/Aquilo em tradução livre), desta vez em homenagem ao livro homônimo do filósofo Kirkegaard e uma continuação dos dramas de Selin, ou melhor, Elif.
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Elif Shafak
Autora de 10 minutos e 38 segundos nesse mundo estranho, livro de dezembro de 2022 da caixinha da Amora, Elif Shafac nasceu em Estrasburgo, França e, em 1971, mudou-se para Ankara com a mãe. Cresceu na casa da avó escutando lendas e mistérios do Oriente enquanto a mãe falava sobre política e estudos universitários. Hoje é cidadã turca e britânica. Doutora em Ciências Políticas, Elif escreve em turco e em inglês. Sua biografia e literatura traduzem muito bem o que é pertencer a vários lugares. Os temas abordados por Elif em seus mais de 19 livros, traduzidos para 56 idiomas, são o pertencimento, a liberdade de expressão, o direito das minorias, imigração e o papel da mulher na sociedade. A autora também tem um canal no YouTube onde fala sobre diversos assuntos baseados em um pequeno ensaio seu intitulado Como permancer são em uma era de divisão.
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Buket Uzuner
Nascida em Ankara, a capital turca, em 1955, Buket vive em Istambul e escreve contos, romances e relatos de viagem. Formada em Biologia Molecular, dá aulas em universidades turcas e escandinavas. Seu primeiro livro, Notas de viagem de uma morena, em tradução livre, publicado em 1988, vendeu cerca de 300 mil cópias e relata suas experiências viajando de trem sozinha pela Europa, Estados Unidos e norte da África. O primeiro romance, Duas lontras, também em tradução livre, lançado em 1991, é uma história sobre o meio-ambiente. Ultrapassou as 50 edições e mais de um milhão de exemplares vendidos. Foi eleita uma das 75 mulheres mais influentes da Turquia. Seus livros fazem parte do currículo de universidades e escolas. Em 2020, processou o produtor da série O segredo do templo, da Netflix, por plágio. Infelizmente ainda não foi traduzida no Brasil.
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Latife Tekin
Sua família tem origens na província interiorana de Kayseri mas, com 9 anos, Latife se mudou para Istambul. Seu primeiro romance, intitulado Querida vergonhosa morte, em tradução livre, leva para o centro da Anatólia uma história inspirada em Macondo e na família Buendía, do romance Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Márquez. O estilo realista-mágico do livro inovou a cena literária local. É uma das fundadoras da Gümüshlük Academy, um centro cultural para residências artísticas e literárias, perto do badalado balneário de Bodrum, no mar Egeu. É outro grande nome da Turquia que ainda não foi publicada no Brasil.
Merve Emre
Nascida em Adana, Turquia, Merve é cidadã norte-americana que hoje vive no Reino Unido, onde trabalha como professora de Literatura em Oxford. Escreve não ficção, mas sempre sobre literatura. Duas de suas paixões são a italiana Elena Ferrante e a inglesa Virginia Woolf. É uma jornalista prolífica com inúmeros artigos sobre livros e feminismo na New Yorker, Herper's, The Atlantic e The New York Times Magazine. Foi também júri do Booker Prize em 2022.
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