"Eliete: a vida normal", (Editora Todavia) - enviado na caixinha do mês de julho da Amora - é o mais novo livro de Dulce Maria Cardoso, uma das grandes vozes da literatura portuguesa contemporânea. Nascida em 1964, na região de Trás-os-Montes, norte de Portugal, Dulce passou a infância em Luanda, capital de Angola. Regressou com a família depois da descolonização e início da guerra civil angolana, em 1975. A experiência de recomeço foi inspiração para "O Retorno", um dos seus livros mais célebres. Formou-se em Direito e lançou seu primeiro romance "Campo de Sangue", em 2001. "Eliete: a vida normal", lançado em Portugal em 2017, e eleito Livro do Ano em importantes jornais como Público, Expresso e JL, foi um dos vencedores do Prémio Oceanos e finalista do Femina, premiação francesa formada por um júri exclusivamente feminino. Sua obra tem sido objeto de teses académicas e adaptada para o cinema, teatro e televisão. Em 2012, a escritora recebeu do estado francês a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras.
Por que ler Eliete: a vida normal?
Porque é um desses livros que nos mostra que as coisas nunca são exatamente como parecem ser, ainda bem. Que vidas, aparentemente banais, revelam muitas camadas. Eliete é mãe de duas filhas, tem um casamento estável, carro na garagem, casa com vista pro mar, trabalha como agente imobiliária e parece ter pouca vontade de ser mais do que aquilo que tem sido sempre: normal. Aos poucos, vamos mergulhando numa narrativa que leva à reflexão e mostra uma personagem complexa. Uma mulher que descobre no Tinder, a possibilidade de inventar novas formas de existir. Tudo isso emoldurado pelo contexto histórico da geração portuguesa que nasceu depois da Revolução dos Cravos. No final, assim como no começo, há a dica: essa narrativa ainda terá novos desdobramentos, ainda mais surpreendentes.
Também para… brincar de adivinhação com as palavras e termos do português falado em Portugal, descobrir a multiformidade da nossa língua, o que nos une e nos distancia sintática e semanticamente.
Breve glossário portuguës-português de palavras que estão no livro:
alcatifa - carpete
alcatroar a estrada - pavimentar a estrada
areia - surras, sova, pancada
arrecadação - depósito
avenças - desentendimentos
baloiço - balanço
bazófia - fanfarrice, vaidade, presunção, ostentação, exibicionismo
berbequim - furadeira
betos - jovens de classe abastada que usam roupas caras e frequentam lugares da moda
bidonville - favela (origem do francês)
bifana - sanduíche de carne de porco
bolides - carro de corrida
cachopa - menina, moçoila
calça de ganga - calça jeans
calcorrear - percorrer a pé
comboio - trem
campa - lage de sepultura
canícula - período de calor muito intenso
carripana - carro velho
Dartacão - Dartanhã (dos Três Mosqueteiros)
ecrã - tela de TV, computador, celular, cinema…
escanção - exercício de contar as sílabas poéticas que compõem os versos de um poema
esgar - trejeito do rosto, careta
estores - persianas
estugado - apressado
fato de banho - roupas de usar na praia: biquini, sunga, maiô
fragulho - couve
lamecha - pessoa que está sempre se lamentando
loiça - louça
magote - amontoado, porção
melgas - espécie de mosquito
mondar - arrancar ervas daninhas
monhés - forma depreciativa de designar pessoas provenientes da Índia e outros países asiáticos
montra - vitrine
osga - lagartixa
parvoíces - tolice, idiotice
patusco - cômico, extravagante
pensos - curativos (band aid)
pespineta - atrevido, insolente
pila - pênis
pirosas - de mau gosto, má qualidade
putéfia - prostitura, meretriz
queca - forma pejorativa de falar ato sexual
queque - bolinho feito de ovos, açúcar e manteiga
quizomba - estilo de dança angolana
relambório - desleixado, preguiçoso
rés do chão - andar térreo
retrosaria - loja de materiais de costura
segar - ceifar, cortar com foice
seráficos - místico, beatífico
tareia - surras, sova, pancada
toutiço - nuca
trocista - gozador, brincalhão
zaragata - alvoroço, confusão
E, por fim… viajar pelas paisagens de Cascais, cenário do livro e um dos destinos preferidos dos brasileiros que vivem em Portugal. Abaixo, um guia básico para se perder pelas ruas, praias e outros cenários por onde passa Eliete ao longo da narrativa.
Guia de Cascais
Cascais é um concelho (subprefeitura) que fica dentro do distrito de Lisboa e compreende as freguesias de Alcabideche, Carcavelos, Parede, Estoril, São Domingos de Rana e a própria vila de Cascais, sede do município. Fica entre a serra de Sintra e o oceano Atlântico. É por lá que se passa a maior parte da história.
O que é a Linha?
A Linha, da qual Eliete tanto fala, trata-se de uma linha de trem (comboio) que percorre toda a zona costeira entre Lisboa e Cascais. O trem parte do Cais do Sodré, em Lisboa, e vai costeando o rio Tejo, até ele encontrar o mar. São 17 paradas, num trajeto que leva cerca de uma hora. É o principal meio de transporte público da região, funciona todos os dias e leva moradores e visitantes, de uma ponta à outra, passando pela Ponte 25 de Abril, atrações turísticas como a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e Mosteiro dos Jerônimos, museus, vistas lindas do mar, formações rochosas, castelos, construções novas e prédios muito antigos. "Os meninos da Linha", de que ela tanto fala, são os jovens que cresceram próximos à linha férrea, local onde os imóveis costumam ser mais caros e ocupados pelas famílias com maior poder aquisitivo.
Praia da Rainha: praia bem pequenininha, de águas calmas, no centro de Cascais. Tem esse nome porque é onde a rainha D. Amélia gostava de se banhar.
Praia do Tamariz: fica em Estoril, na 11ª parada da Linha de Cascais. Animada, cheia de restaurantes e até uma piscina atlântica.
Praia da Azarujinha: praia rodeada de falésias em São João do Estoril, 9ª estação da linha no sentido Lisboa-Cascais.
Parede: freguesia do concelho de Cascais. A atração principal são as praias com água rica em iodo que, dizem, é ideal para quem tem problemas nos ossos. Não à toa, a região é cheia de clínicas de clínicas ortopédicas.
Carcavelos: freguesia de Cascais com a maior faixa de areia da Linha. Animada, cheia de bares, restaurantes, locais de entretenimento e esportes à beira mar.
Estrada do Guincho: é uma estrada lindíssima que leva até a Praia do Guincho, em Cascais. A praia, uma das preferidas de surfistas e windsurfistas, é de mar aberto, com dunas branquinhas, muito vento e algumas ótimas opções para comer frutos do mar.
Serra de Sintra: também conhecida como Monte da Lua, é uma serra que fica entre a vila medieval de Sintra e Cascais. É lá que ficam o Castelo dos Mouros, o Palácio da Pena, o Convento dos Capuchos, o Palácio Nacional de Sintra, o Palácio de Monserrate e a Quinta da Regaleira.
Boca do Inferno: formação rochosa à beira do mar que é um dos principais pontos turísticos de Cascais.
Monte Estoril: pequena localidade situada na região mais alta e luxuosa das freguesias de Cascais e Estoril. Famosa pelos casarões, palacetes, e por ser um local frequentado pela elite europeia.
Hotel Baia: primeiro hotel construído no Centro Histórico de Cascais, em 1962. Fica de frente para o mar e é emblemático na região.
Garrett do Estoril: pastelaria (confeitaria) próxima à praia do Tamariz. Existe desde 1932 e recebia a ficou famosa por ser frequentada pela alta burguesia portuguesa que morava na vizinhança elegante.
Não assinou a Amora ainda? Então clica aqui pra assinar e receber sua primeira caixinha no mês que vem!
Leia também:
- A curadoria da Amora
- 5 motivos para ler mais mulheres
- As mulheres na literartura argentina contemporãnea
- Conheça o projeto Pé de Amora