5 motivos para ler mais mulheres 

5 motivos para ler mais mulheres 

Postado em:
Blog - Leia mulheres
- 16/03/2022 14:12:11

Por mais que estejamos avançando (a passos bem mais lentos do que gostaríamos) na busca pela equidade de gênero na literatura, ainda há uma estrada longa e esburacada a percorrer. Movimentos como o Leia Mulheres, livrarias como a Gato sem Rabo, editoras como a Quintal, clubes de assinaturas como a Amora  e tantos outros coletivos e iniciativas vêm ajudando a abrir os olhos do mercado editorial nos últimos anos. Mas a transformação mesmo só vai acontecer quando leitoras e leitores descobrirem que são a força que move essa mudança. Selecionamos cinco motivos, entre muitos, pra você ler mais mulheres. Vem com a gente! 

5 motivos para ler mais mulheres

  1. Por uma questão de equilíbrio na representatividade das mulheres na sociedade

    Tirando raras exceções, a maior parte das bibliotecas concentra um número muito maior de autores homens do que de autoras mulheres. Isso acontece na sua casa, na nossa, nas livrarias, nas universidades, no Brasil e no mundo. Ao longo da história, as mulheres tiveram menos oportunidades de se dedicar à literatura, foram menos publicadas, premiadas e divulgadas. Os números ajudam a deixar isso ainda mais claro: em 117 edições do Prêmio Nobel de Literatura, apenas 16 mulheres foram vencedoras. Menos de 20% dos primeiros lugares na categoria romance do Prêmio Jabuti são de autoras mulheres. Seis mulheres ocupam cadeiras entre os 40 membros da Academia Brasileira de Letras e a primeira a chegar lá foi Rachel de Queiroz, que conquistou esse espaço 40 anos depois da criação da instituição. O Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura em Língua Portuguesa, premiou sete mulheres nas suas 33 edições. Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Contemporânea da UNB (Universidade de Brasília) revelou que 70% dos livros publicados no Brasil por grandes editoras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens.

  2. Por novas oportunidades de conhecimento

    Já lemos escritores homens à exaustão. Desde os livros obrigatórios da escola, às listas do vestibular e dos prêmios de literatura. Dos chamados clássicos, quase 99% são homens. Basta pensar em Machado de Assis e nos russos. A crítica parece nos levar automaticamente para eles, dos destaques nos cadernos de cultura às revistas literárias. E quando se trata de mulheres, há uma repetição de nomes consagrados. Mas o universo da literatura escrita por mulheres vai muito além de Clarice Lispector, Virginia Woolf e Isabel Allende (maravilhosas, diga-se). Há uma legião de escritoras esperando você nas prateleiras das livrarias (e nas caixinhas da Amora), das jovens brasileiras Giovana Madalosso, Socorro Acioli, Marcela Dantés, Tatiana Salem Levy, Elizabeth Cardoso, Preta-Rara às estrangeiras Leila Slimani, Rachel Cusk, Sally Rooney e Sayaka Murata. A Revista Puñado, dedicada à literatura de mulheres do Brasil, América Latina e Caribe, em sua sétima edição, tem sempre nomes incríveis da Guatemala, Dominica, Bolívia e Argentina. Neste momento há autoras incríveis lançando livros em Istambul, Santiago do Chile, Pequim e Omã. 

  3. Para saber o que pensa e como se exprime metade da população mundial

    Tem uma frase da pensadora Efu Nyaki que diz "metade do mundo são mulheres, a outra metade são os filhos delas". Contudo, ao lermos muito mais livros escritos por homens, deixamos de escutar as vozes deste contingente maravilhoso de narradoras. Se estamos em busca de mais mulheres nas mesas de negociação, no Congresso, no Senado, nas diretorias de empresas e em profissões como Engenharia e Física para que pontos de vista e opiniões estejam mais equilibrados, o mesmo se passa na cultura e, por consequência, na literatura. Homens e mulheres precisam se acostumar a ver figuras femininas tão frequente quanto vêem masculinas. A autora Rosa Montero, no livro "A Louca da Casa" diz o seguinte: "Já é hora de os leitores homens se identificarem com as protagonistas mulheres da mesma maneira que, durante séculos, nós nos identificamos com os protagonistas masculinos, que eram os nossos únicos modelos literários; porque essa permeabilidade, essa flexibilidade do olhar nos tornará a todos mais sábios e mais livres".

  4. Pela transformação de uma indústria e, por conseguinte, da sociedade

    A indústria cultural está cheia de quadros de musas, estátuas femininas e personagens clássicos escritos por homens, Capitu e Emma Bovary que o digam. Visite um museu, mesmo de arte contemporânea, e a maioria das obras serão assinadas por homens. Ler mulheres ajuda a promover o trabalho de autoras, que são ajudadas por um contingente enorme de tradutoras, editoras, designers e livreiras. Ao prestigiar uma autora mulher, a "mão invisível" do mercado editorial passa a buscar mais ativamente novos nomes. Quem já publica passa a publicar mais, quem quer entrar no mercado, tem mais receptividade. Quantas histórias existem de mulheres que tiveram que usar um pseudônimo masculino para poderem ser publicadas? E as várias mulheres que estiveram ativamente por trás de grandes obras, sem terem sido devidamente creditadas? Com mais nomes de mulheres nas livrarias, nas listas dos mais vendidos, nas seleções para os prêmios é que veremos mais mulheres inseridas nas academias, prêmios e assim por diante. Ler mulheres é um ato político.

  5. Por que o destaque das mulheres vai além de um teto todo delas

    Virgínia Woolf, em seu famoso ensaio de 1929 intitulado "Um Teto Todo Seu", escreve que se tivesse existido uma Judith Shakespeare, irmã de William, ela teria ficado em casa enquanto o irmão iria à escola. A independência das mulheres só se daria no dia em que houvesse independência financeira. Vemos hoje inúmeras mulheres financeiramente independentes, mas as amarras do patriarcado seguem funcionando tão poderosamente quanto na época de Virgínia. Ler mais mulheres ajuda a reverter esse cenário, colocando as vozes femininas em todos os âmbitos da produção literária.

    A cada mês, Amora seleciona uma grande obra de uma grande autora publicada para trazer ao centro de discussões. Ao mesmo tempo, um conto de uma autora estreante também faz parte da caixinha enviada às assinantes e aos assinantes no projeto Pé de Amora, para dar a oportunidade de mais mulheres serem descobertas, apreciadas, valorizadas e incentivadas. Assine Amora e nos ajude a promover esse movimento.


    EXTRA

    Extrato da matéria Onde Estão Elas? sobre o ensaio O Riso da Medusa, de Hélène Cixous da Revista 451 - a revista dos livros, de março de 2022 (págs. 22 e 23)
    Por Fabiane Secches

    "Talvez por isso O Riso da Medusa possa remeter, em certa medida, à luta constante que uma mulher trava pelo direito de escrever que pensa, o que seu corpo sente, sem amarras sociais, justamente como propõe Woolf. Só quando unidas as liberdades da mente e do corpo é que deixam de existir obstáculos que cerceiam a 'escrita feminina'. Não reduzindo essa escrita a temáticas exclusivamente ditas 'femininas', nem direcionadas exclusivamente a mulheres ou a obras cujas vozes sejam imediatamente relacionadas a um 'eu' feminino. Pelo contrário, a 'escrita feminina' vem sem voz pré-demarcada, podendo ser tudo, falar sobre tudo."

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    Leia também: 
    Conheça o projeto Pé de Amora 
    Entrevista com Marcela Dantés, autora de Nem sinal de asas 
    Entrevista com Socorro Acioli, autora de A Cabeça do Santo 
    A curadoria da Amora